terça-feira, 31 de julho de 2007

Escuta, Zé Ninguém!

Bom, como nada postei neste mês de julho, só para não ficar em branco, segue um texto de Wilhelm Reich. Uma crítica ao homem...

Mas o tema do Blog não é Graça? Por isso eu digo que este texto tem tuda a ver com o tema, em suas entrelinhas. :)

Fiquem nEle..

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Escuta, Zé Ninguém!

Chamam-te “Zé Ninguém!” “Homem Comum” e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.

Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro.da raça humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És “livre” apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica.

Nunca te ouvi queixar: “Vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço”.

Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.

Mas eu entendo-te. Vezes sem conta te vi nu, psíquica e fisicamente nu, sem máscara, sem opção, sem voto, sem aquilo que fiz de ti “membro do povo”. Nu como um recém-nascido ou um general em cuecas. Ouvi então os teus prantos e lamúrias, ouvi-te os apelos e esperanças, os teus amores e desditas. Conheço-te e entendo-te. E vou dizer-te quem és, Zé Ninguém, porque acredito na grandeza do teu futuro, que sem dúvida te pertencerá. Por isso mesmo, antes de tudo o mais, olha para ti. Vê-te como realmente és. Ouve o que nenhum dos teus chefes ou representantes se atreve a dizer-te:

És o “homem médio”, o “homem comum”. Repara bem no significado destas palavras: “médio” e “comum”.

Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. “Que direito tem este tipo de dizer-me o que quer que seja?” Leio esta pergunta nos teus olhos-amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, direto em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém, Dizes: “Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?” E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-te.

Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé Ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade. O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos seus grandes generais, mas não de si próprio. Que admira as idéias que não teve, mas nunca as que teve. Que acredita mais arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita no que quer que lhe pareça fácil de assimilar.

Comecemos pelo Zé Ninguém que habita em mim: Durante vinte e cinco anos tomei a defesa, em palavras e por escrito, do direito do homem comum à felicidade neste mundo; acusei-te pois da incapacidade de agarrar o que te pertence, de preservar o que conquistaste nas sangrentas barricadas de Paris e Viena, na luta pela Independência americana ou na revolução russa. Paris foi dar a Pétain e Laval, Viena a Hitler, a tua Rússia a Stalin, e a tua América bem poderia conduzir a um regime KKK – Ku-Klux-Klan. Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo!

sábado, 30 de junho de 2007

Truman´s de consciência.

Essa semana comecei a lembrar do filme "O Show de Truman". Apesar de não recordar dos detalhes, consegui resgatar na memória algumas coisas... e me deu até vontade de revê-lo por isso.

O filme acaba no momento em que ele sai da cúpula onde viveu a vida inteira, enganado por todos ao seu redor, numa trama que conseguiu segurá-lo até aquele momento naquele mundo de fantasia.

Naquela cúpula ele cresceu, viveu, estudou, conheceu sua esposa, filhos, tinha emprego, alimentação... nada lhe faltava e tudo que uma pessoa espera ter, ele tinha. Mas algo ainda o incomodava.

Por mais que ele achasse que fazia suas escolhas, todos os seus passos eram decididos pelos diretores do programa para ele - incluindo, a própria esposa.

Todo o enredo criado pelos autores do reality show conseguia segurá-lo naquela cidade pelos medos que foram gerados nele, que o fazia se conformar em viver naquela clausura. Mesmo assim nunca perdeu a inquietação no seu coração de que havia algo além daquele mar... algo além daquela estrada. Um mundo que havia sido negado a ele.

Algumas vezes ele até tentou sair, mas a cada tentativa uma nova tragédia o traumatizava ainda mais, com a ajuda das palavras de desencorajamento dos que viviam ao seu redor.

Então, entre os telespectadores, começou a surgir aqueles que torciam por sua liberdade. Mas também havia os que diziam: "Qual o problema nisso? Qual o problema de manter o Truman ali dentro? Afinal, ele é feliz, tem o que quer... emprego, família, casa, "amigos"... não vejo problema algum".

Conforme algumas coisas estranhas iam acontecendo, que para sua percepção ia sendo revelada uma possível farsa, essa inquietação cresceu de tal maneira que ele não poderia continuar vivendo ali sem arriscar e ir atrás da verdade.

Nisso, contra todas as dificuldades ele finalmente conseguiu chegar a saída daquela redoma, no fim do mar que todos lhe diziam ser intransponível. Mas ali, diante da revelação, o que será que passou por sua cabeça? O que antes era apenas uma desconfiança, se provou real.

Truman viveu numa "prisão" física, no mundinho inventado para ele, mas não raramente há vários outros mundinhos onde fisicamente a pessoa pode até estar livre, mas sua consciência está tão presa quanto Truman.

Quando os "Truman´s de consciência" descobrem a saída da cúpula onde viveram, o que esperar deles? Mágoa pelo tempo de engano ou felicidade pela nova revelação?

O filme não mostra o que acontece depois da libertação de Truman nem sua postura depois de livre, mas optar pela mágoa só o tornaria um fisicamente livre, porém, com o coração ainda
dentro da redoma. E pelo que tenho sentido, essa é a escolha da maioria.

Como Paulo escreveu aos Gálatas: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão."

De um "Truman" para outros...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Sacerdote, Levita ou Samaritano?

Domingo passado estava eu saindo de casa para ir na reunião da Estação já um pouco atrasado. Entrei no carro, liguei e me lembrei que tinha que ver a água. Desliguei, abri o capot, e realmente o carro estava totalmente seco. Resolvi voltar em casa para pegar uma garrafa.

Na hora que eu estava abrindo a porta, me chamou um homem e perguntou: "Olha, será que você não pode me arrumar um emprego ou me indicar um? Pode ser de faxineiro, pedreiro, pintor... qualquer coisa!" Eu pensei um pouco, mas como não encontrava nada como resposta, disse que não poderia ajudar. Nisto ele começou a contar sua vida, da dificuldade da sobrevivência, das necessidades que vinha passando, dos filhos em casa, dos choros por não conseguir um emprego e sustentar a família, e de sua esperança de que Deus o iria ajudar e era com ele.

Enquanto ele falava, em um momento cheguei a pensar: "Poxa, já estou atrasado para a reunião." Mas logo lembrei da parábola do bom samaritano e vi a tamanha religiosidade de tal pensamento. Neste momento esqueci da reunião e busquei dar a atenção que ele precisava.

Assim como o sacerdote e o levita estavam mais preocupados com os seus afazeres religiosos no templo do que com a necessidade daquele homem caído ao chão, muitas vezes caímos no engano que mais importante é estar em um culto, missa, reunião, seja lá o que for... do que mudar nossos planos e caminho em direção a igreja para ajudar alguém que nos pare precisando de ajuda. E ainda achamos que assim estamos agradando a Deus, porque provamos nosso desejo que Ele é nossa prioridade na vida, porque preferimos estar em "Sua casa" a desviarmos nosso caminho por um necessitado qualquer.

Esquecemo-nos que Ele é prioridade em nossas vidas quando damos prioridade à vida, e não a "reuniões sagradas". Mais importante para Jesus é que vivamos em amor, compadecendo-nos dos necessitados, e que tal compaixão seja capaz de até mudarmos nossos planos para ir de encontro a carência do próximo, do que simplesmente ir em algum lugar falar e escutar sobre Ele. É só olhar o que Jesus mesmo viveu.

Não estou tirando a importância da comunhão, claro! Mas se a comunhão que participamos toda semana, ou até mais, não for gerando tal sensibilidade em nosso coração, pouca coisa temos aproveitado.

No final, acabei não conseguindo o emprego mas o ajudei dentro do que podia no momento. Cheguei na Estação e a reunião ainda não tinha começado... e portanto, nada foi perdido. E mesmo que algo tivesse sido perdido, não importa. A prioridade do Pai é sempre a vida... para Ele, a única coisa sagrada neste mundo é a vida. :)

Fiquem nEle...

terça-feira, 12 de junho de 2007

Coisas de menino...

Paulo disse:

"Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça."

"Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê."

A graça substituiu a lei. Mas qual a lei da graça?

"A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor."

No caso, um mundo que ama não precisa de lei? Essa pergunta veio como um choque sobre mim! Poxa... um mundo fundado no amor não precisaria de leis! Que doideira!! hehe Fiquei fascinado com isso. MAs será que isso realmente é verdade? "Pai, me mostra de forma clara para eu entender melhor" foi o que pedi.

Bom, nisto comecei a lembrar de quando eu era menor... período em que achava que irmão só servia para atrapalhar, para encher o saco, para ter que dividir as coisas... bem coisa de irmão mais velho que acha que por ter vindo primeiro bem poderia ter sido o único para ficar com tudo sem ter que dividir nada... brinquedos, atenção, e outras coisas. :)

Nesta época eu e meus dois irmãos brigávamos muito, e há pouco tempo minha prima Cris fez um comentário que eu desconhecia, dizendo que minha mãe muitas vezes deixava de sair com receio de que sozinhos nos atracássemos sem ter ninguém para separar. Logo, para que a convivência fosse possível, era necessário a imposição de algumas regras.

Nisto fui fazendo uma comparação com a forma que vejo meus irmãos hoje, e percebendo que mesmo que fique meses em um cubículo com ambos, não teríamos o mínimo problema. E por quê? Porque hoje eu os amo. E onde há amor, há respeito, há abnegação, há tudo. :)

"Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado."

Se o que é perfeito entra nos nossos corações, todo o egoísmo, rivalidade, indiferença... tudo que é imperfeito deixa de fazer sentido e desaparece.

Certo dia fui compartilhar isso com uma amiga, no que ela me disse: "Ahhh, mas isso é coisa de criança. É normal". O problema não é as crianças se comportarem desta forma, e sim continuarmos nos comportando como se não tivéssemos amadurecido nada. Porque é exatamente assim como muitas vezes percebemos o nosso próximo. Percebemos o próximo como alguém que está ali pra nos superar, para atrapalhar, para ter que dividir... no caso, somos uma sociedade sem amor e que ainda tem visão de criança.

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino."

O que é ser maduro? Só o amor é perfeito, e qualquer busca sem o objetivo de crescer no amor é coisa de criança. Só nos tornamos homens quando amamos, logo, será que realmente queremos ser homens? Será que realmente queremos deixar as coisas de menino? Não há nada mais desprezado do que o amor hoje em dia... e talvez por isso, estamos vendo a sociedade clamar por leis mais severas para conter a infantilidade da humanidade.

Mas calma aí! Vou fazer uma pergunta: Conseguem perceber que amor e lei são inversamente proporcionais? Na verdade, a lei serve para conter a falta de amor, dando consciência de nosso delito, sendo no caso, boa. Porém, acaba servindo como termômetro de nossa frieza. Quem ama, está acima da lei e por isso a torna obsoleta e desnecessária. Por que será então que depois de casos como o do João Hélio ficamos tão interessados em leis mais severas... mais duras?

Clamamos por mais leis, mas não nos dispomos a amar. É apenas o reflexo da nossa indignação que deseja vingança, não porque temos sede de justiça, mas porque temos medo de sermos alcançados pelas vítimas da nossa indiferença.

Mas será "medo"? "O amor lança fora todo o medo", logo, a ausência dele gera medo. "O amor se esfriará nos últimos dias", e o que surgirá como conseqüência? A bíblia diz que a iniquidade se multiplicaria, mas também o medo. Uma sociedade iníqua vive amendrotada pela falta de amor que possui. E isso é tão claro já nos nossos dias, que fica relativamente fácil fazer uma projeção futura:

Aqueles que tem algo a preservar neste mundo já estão abrindo mão da privacidade em vários locais em troca de "segurança". Mas e quando se tornar impossível andar em qualquer lugar?
Quando o medo e insegurança imperam, o homem abre mão até da própria liberdade. Será que fica difícil aceitar a possibilidade que num futuro próximo clamaremos por um governo Autoritário Global(com leis rígidas e monitoramento total), abrindo mão de nossa liberdade e privacidade em busca de segurança? Muitos tem falado sobre isso, mas só agora está se tornando claro para mim.

Bom, não quero passar a impressão nem digo que sou "a pessoa que ama", mas simplesmente alguém que percebeu que crescer neste entendimento é o que nos realiza como seres humanos.
Sempre negligenciei muito a importância do amor na minha vida, e estou apenas começando a trilhar meus passos neste caminho. Sou apenas um bebê na nova vida em Graça, com muito a aprender... e como!

Caminhar em tal estrada não é apenas falar sobre o tema, mas é praticar optando por usar a ótica do amor em cada situação da vida - ô caminho difícil! É este o chamado "caminho estreito" e, lógico, tendemos a preferir o caminho largo. Tal caminho dói muitas vezes, porque é uma afronta ao nosso egoísmo, orgulho, preservação... mas no final, quando conseguimos, paz e alegria são as recompensas de nossa alma.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Vaidade de ser *

Texto do Caio(www.caiofabio.com)... reflitam. :)

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Falar de vaidade é falar da existência, pois, tudo é vaidade.

Não apenas a juventude e a primavera da vida, mas tudo o mais que concerne à existência, em qualquer fase, tempo ou idade, de acordo com o diagnóstico filosófico do Eclesiastes, é vaidade.

“Todo homem, por mais firme que seja, é vaidade” — decreta o salmo.

Corremos por vaidade. Produzimos por vaidade. Conquistamos por vaidade. Desejamos pessoas e coisas por vaidade. Sonhamos vaidades. Cantamos vaidades. Narramos vaidades. Sofremos vaidades.

Assim, nossas lágrimas são vaidades e nossas gargalhadas mais ainda. Afinal, quem vive sem os fugazes gostos da vaidade?

O melhor de nós que esteja é pé, se em pé aparenta estar, o está apenas pelo inflamento de vento de nada e que o incha de vaidade.

Até nossas melhores intenções são vaidades. Sim, nossas virtudes mais sinceras ainda são como jazida de minério preciso penetrado de lama, terra e cascalho.

Disfarçamos tudo muito bem. Sim, para que nossas vaidades não se tornem feias de mais aos sentidos de todos, escondemo-las muito bem. Mascaradas de amor ao próximo, de missão social e cívica, de solidariedade, de campanhas pela paz, de fervor religioso, de cruzada moral e ética, de pureza doutrinária, de ação social e educacional, de piedade devocional, de dedicação às causas altruístas, de tudo o que puder passar por bom ou melhor...

Mas lá no fundo lateja a vaidade!

Assim, todas as nossas justiças são como trapo de imundícia, e, portanto, quem se enxerga já não se gloria de nada; pois diz: “Senhor me salva das minhas virtudes, para que elas não te sejam o culto do louco!”.

Há, porventura, entre os que me lêem alguém que deseje me contestar, dizendo: “Ah! Eu não! Eu não sou vaidade”?

Se não há, então, pode ainda haver salvação para nós. Ora, isso se a consciência se tornar humilde e verdadeira no serviço à verdade, e que começa por nos declarar irredimível vaidade.

Minha salvação está na minha admissão sincera de total perdição ante os olhos do Santo.

Por tal admissão eu recebo Graça todos os dias. Especialmente nos dias quando venço meu engano de me achar melhor então do que antes.

Na minha força é que preciso mais e mais de minha fraqueza. A fraqueza é o melhor antídoto contra a vaidade como virtude; e que é a forma de vaidade que o diabo mais gosta de encontrar em mim.

Nele, cuja vida foi a única fora do serviço à vaidade,


Caio

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Profecias... no devido lugar.

Não raramente se vê nas igrejas uma sede por profecias. Se aparece um irmão profeta, sempre tem alguém querendo saber sobre o futuro. Eu mesmo, não lembro de já ter recebido uma profecia detalhada, e no início até sentia falta. Sobre ministério? Bem.. Uma amiga chegou a me contar algo; uma outra amiga disse que sabia meu ministério apesar de não querer contar. Na época eu até quis saber, mas hoje... não me importo.

Mas por que falo isso? Porque a gente sempre quer ver um horizonte no nosso futuro e eu não era diferente. Porém, atualmente meu foco acabou virando o Hoje.

Bem, profecias - se verdadeiras - são bençãos de Deus, mas não podemos viver em cima delas, nem direcionados por elas. Temos que simplesmente viver, fazendo conforme nosso coração e, sendo de Deus, elas se realizarão. Deixe o amanhã pro amanhã, pois a única coisa que realmente temos é o agora.

Bom, um dia estava meditando e começei a pensar sobre realização. Fiquei pensando em como as pessoas projetam tanto sobre coisas a serem concretizadas, para então se sentirem realizadas. Entretanto, enquanto projetamos realizações, a realização sempre estará no futuro, e não no Hoje. As pessoas nunca se sentirão realizadas, porque na concretização de algo, sempre vem outro sonho a seguir. O ser humano precisa de sonhos, mas não pode colocar seu coração neles, mas sim, no caminho até eles. O que nos impede de sermos realizados hoje? Tudo já está consumado... :) Essa é nossa realização! O Pai nos chama no dia chamado Hoje, e no Hoje todas as coisas estão terminadas, mesmo que ainda não possam ser vistas. E o que é a fé, senão isso?

Um bom exemplo é a perfeição. Quem está em Cristo, tem como meta a perfeição, afinal, deseja ser como Cristo. Porém, sabemos que não somos perfeitos e nunca alcançaremos tal meta nesta vida. Desanimaremos? Não, porque a fé nos mostra que através de Cristo tal objetivo já está concretizado, e somos perfeitos hoje, mesmo que estejamos ainda em processo. É o paradoxo do Evangelho: somos, mesmo ainda em processo de ser; chegamos ao destino, mesmo que ainda esteja no meio do caminho. Tudo isso porque somos em Cristo, e não por nós mesmos.

Pela fé, mesmo que as promessas ou as coisas que serão feitas de nós não estiverem prontas, já foram realizadas e, logo, realizados são os que vivem pela fé! Não pelo que se tem hoje, mas porque o próprio Espírito testifica em nosso espírito que Ele terminará a boa obra que começou. E se terminará, pela certeza que temos no nosso coração gerada pela fé, que é dom de Deus, e não nosso, a conseqüência natural é a alegria neste caminho até a consumação dos séculos, a cada dia, vivendo o que está ao nosso alcance em amor. Não há realização maior que essa, pois nada pode trazer maior paz e alegria. Isso é já estar na eternidade, mesmo que ainda estejamos neste corpo de morte!

Viva pela fé, guarde as profecias no coração, e se regozige quando cada uma delas se realizar. Mas não viva em função delas... O que é de Deus, se cumpre... o que é do homem, nem sempre. Mas a certeza de que a vontade dEle prevalece deve ser sempre nosso "porto seguro".

sábado, 2 de junho de 2007

Carta a Diagoneto *

Abaixo vai uma carta datada entre os séculos II e III d.C, de um cristão anônimo para seu amigo Diagoneto, um pagão que queria saber mais sobre a mais falada "seita" da época.

Achei simplesmente maravilhosa, porque mostra a visão cristã da igreja primitiva, antes dela conhecer qualquer poder deste mundo, seja financeiro ou político.

Quantos de nós podemos definir tão bem o que é ser de Jesus, mesmo depois de 18 séculos terem se passado? Será que progredimos ou regredimos? Busquem a resposta na igreja atual... e, principalmente, em si próprios. :)

Fiquem nEle...


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"Os cristãos não se distinguem dos demais homens nem pelo território, nem pela língua que falam, nem pelo modo de vestir. Não se isolam em suas cidades, nem usam uma linguagem particular, nem levam um gênero de vida especial.

A sua doutrina não é conquista do gênio inquieto de homem perscrutadores; nem professam, como fazem alguns, um sistema filosófico humano. Vivendo em cidades gregas ou bárbaras (estrangeiras), conforme a sorte reserva a cada um, e adaptando-se às tradições locais quanto às roupas, à alimentação e a tudo o mais da vida, dão exemplo de um estilo próprio de vida social maravilhosa, que, segundo a confissão de todos, tem em si qualquer coisa de incrível.

Vivem em sua respectiva pátria, mas como estrangeiros. Participam de todos os deveres como cidadãos e suportam as obrigações como estrangeiros. Qualquer terra estrangeira é pátria para eles e qualquer pátria lhes é terra estrangeira. Casam-se como todos os outros e geram filhos, mas não os abandonam. Têm em comum a mesa, mas não o leito. Vivem na carne, mas não segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu.

Observam as leis estabelecidas, mas com seu modo de vida as superam. Amam a todos e por todos são perseguidos. Não são conhecidos e são condenados. Dá-se-lhes a morte, e eles dela recebem a vida. São pobres, mas a muitos tornam ricos. Nada possuem, mas tudo têm em abundância. São desprezados, mas encontram no desprezo a glória diante de Deus. Ultraja-se a sua honra e acrescenta-se testemunho à sua inocência.

Insultados, abençoam. Demonstram-se insolentes com eles, e eles tratam-nos com respeito. Fazem o bem e são punidos como malfeitores. E punidos, gozam, como se lhes dessem vida. Os judeus fazem-lhes guerra como raça estrangeira. Os Gregos perseguem-nos, mas aqueles que os odeiam não sabem dizer o motivo de seu ódio.

Para dizer com uma só palavra, os cristãos estão no mundo como a alma está no corpo. Como a alma difunde-se por todas as partes do corpo, assim também os cristãos estão disseminados pelas várias cidades do mundo. A alma habita o corpo, mas não provém do corpo: também os cristãos habitam no mundo, mas não provém do mundo. A alma invisível está encerrada num corpo visível; também os cristãos, sabe-se que estão no mundo, mas a sua piedade permanece invisível.

Como a carne odeia a alma e faz-lhe guerra, sem ter recebido qualquer ofensa, mas só porque lhe proíbe gozar dos prazeres, também o mundo odeia os cristãos que não lhe fizeram qualquer coisa de errado, só porque se opõem ao sistema de vida fundado no prazer.

A alma ama à carne, que a odeia, e aos membros; os cristãos igualmente amam aqueles que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, mas ela própria sustenta o corpo; também os cristãos são retidos no mundo como numa prisão, mas eles próprios sustentam o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal, também os cristãos moram como peregrinos entre as coisas que se corrompem, à espera da incorruptibilidade dos céus.

Mortificando-se nos alimentos e nas bebidas, a alma se faz melhor; igualmente os cristãos, punidos, multiplicam-se dia a dia. Deus deu-lhes um lugar tão sublime, que não devem absolutamente abandonar."

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Amor X Medo

Qual o inverso do amor? A primeira resposta que vem a nossa cabeça geralmente é "ódio". Mas será? Muitas vezes o ódio é a manifestação distorcida do amor, pois afinal, nossa naturza caída é capaz de transformar o que é bom em ruim. O ódio geralmente nasce onde antes havia no mínimo um forte afeto, mas nunca nasce da indiferença.

Uma vez estava lendo um livro do Rick Joyner onde ele dizia que o inverso do amor não era o ódio, e sim o medo. E isso utilizando a passagem onde João diz que o amor lança fora todo o medo. Achei interessante, mas de certa forma, não havia compreendido direito. "Medo? Legal... Mas por que o medo"? - fiquei me perguntando.

"Pai, me dá uma luz nisso aí" - pedi. :)

Umas semanas depois, indo de Recife para Maceió em um ônibus que parava em tudo quer era cidade, o que o faz levar 2 horas a mais de viagem, acabei aproveitando todo o tempo vago para ir conversando um pouco com Deus. Nisso, tal assunto começou a clarear.
"porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração".

Onde geralmente está o coração das pessoas hoje em dia? No dinheiro? Fama? Casamento? Nos filhos? Colocamos nosso coração nas coisas palpáveis e transitórias. Mas nada nesse mundo permanecerá, tudo é passageiro. "Toda a carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre" - nos diz Isaías.

Nosso tesouro é aquilo que nos "sacia" e nos dá segurança. Mas quando a maior segurança do homem é transitória, também passa a ser sua maior insegurança. Sua segurança está no emprego? Então seu maior medo é ser demitido. Sua segurança está no dinheiro? Então o maior medo é a falência. Sua segurança está no casamento? O medo é o divórcio. Fama? O anonimato. Da mesma forma que o coração é pacificado por essas coisas, a aflição sempre está ali presente em segundo plano... no caso, uma segurança simplesmente circunstancial.

Mas o que permanecerá?

"O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará".

Tudo neste mundo passará, mas o Amor permanecerá. E quando falo Amor, não falo de amor... Falo do próprio Amor... de Deus. :)

A verdadeira busca do homem é pelo amor, mas para alcançá-lo acaba usando as coisas transitórias deste mundo para conseguir o que é eterno... mas tudo pura ilusão! Quem firma seus relacionamentos no dinheiro, perdendo-o, também perde todos ao seu redor. Fama? Ficou anônimo, ninguém mais nem lembra da existência. Mas quem está firmado no amor, sabe que ninguém pode separá-lo do seu maior tesouro! Pode perder tudo, mas que lhe importa? Seu tesouro continua com ele! E todos os seus vínculos de afeto, que a ele se ligaram por amor, também.

Assim o medo vai perdendo o significado... vai perdendo o sentido na vida daqueles que vão mergulhando cada vez mais fundo no que é eterno. Afinal, ter medo de quê? O que ele valoriza ninguém pode lhe tirar... nem mesmo a morte! Porque o amor continuará com ele pela eternidade junto ao Pai, e pela fé, já sabe que lá conhecerá seu tesouro de uma forma muito mais profunda. É... assim, até o medo da morte deixa de ter qualquer sentido.

Agora, me vem uma pergunta: Seu tesouro é sua vida? Ela também passa... logo, mude o foco pro que é eterno. Por isso Jesus nos disse: "Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará". Não foi um ato de um "deus carente" fazendo chantagem emocional, e sim de um Deus que conhece o caminho da nossa salvação e da paz que só Ele pode nos dar, paz essa que estirpa toda a raiz de medo em nossa vida. :)

"No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor". - foi o que disse João.

Portanto, onde está seu coração?

Fiquem nEle... que é Amor. :)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O toque incondicional de Jesus *

Hoje vai um texto de Max Lucado, no livro "Simplesmente como Jesus". Dentro do contexto de Mateus 8:1-4... é puro amor... :)

Fiquem nEle...

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O TOQUE INCONDICIONAL DE JESUS
Indigno do toque humano, mas digno do toque de Deus

Durante cinco anos ninguém me tocou. Ninguém. Nem uma pessoa. Nem a minha esposa. Nem meus filhos. Nenhum de meus amigos. Ninguém me tocou. Eles apenas me viam. Falavam comigo. Eu podia sentir amor na voz dessas pessoas quando se dirigiam a mim. Podia ver a preocupação expressa em seus olhos. Porém, eu não podia sentir o toque delas. Não havia nenhum toque. Nenhuma vez sequer. Ninguém me tocava.

Eu desejava ardentemente algumas coisas que são comuns para você. Apertos de mãos. Calorosos abraços. Um tapinha nos ombros para chamar a minha atenção. Um beijo nos lábios para roubar um coração. Esses momentos foram arrancados de meu mundo. Ninguém me tocava, Ninguém acidentalmente esbarrava em mim. O que eu não teria dado para que alguém esbarrasse em mim, para que pudesse estar apertado em meio a uma multidão, para que o meu ombro roçasse o ombro de outra pessoa... Mas durante cinco anos isso não aconteceu. Como pode ser isso? Não me era permitido caminhar livremente pelas ruas. Mesmo os rabinos mantinham distância de mim. Não me era permitido participar dos cultos na sinagoga. Não era bem-vindo nem ao menos em minha própria casa.

Eu era intocável. Era um leproso. E ninguém me tocava. Somente até o dia de hoje. Certo ano, durante a colheita, percebi que estava mais fraco ao segurar a foice. As pontas de meus dedos haviam se tornado insensíveis, umas após outras. Em pouco tempo eu ainda podia segurar a ferramenta, porém, dificilmente senti-la. Ao final da estação, eu já não sentia nada. Era como se a mão segurando o cabo pudesse ser de outra pessoa – a capacidade de sentir se foi. Não disse nada a minha esposa, mas sabia que ela suspeitava de algo. Como é que ela não poderia suspeitar? Eu carregava a minha mão agarrada a meu corpo como um pássaro ferido.

Certa tarde, mergulhei minhas mãos em uma bacia com água a fim de lavar meu rosto. A água tornou-se vermelha. Um de meus dedos estava sangrando, e sangrando livremente. Eu nem mesmo sabia que havia me ferido. Como será que me cortei? Com uma faca? Será que minha mão deslizou pela borda afiada de algum utensílio de metal? Deve ter sido isso, mas não senti nada.

"Sua roupa também ficou suja", minha esposa disse com voz meiga. Ela estava atrás de mim. Antes de olhar para ela, olhei para as manchas carmesins em meu manto. Parecia que era a vez em que mais me demorara diante de uma bacia, olhando para a minha mão. De alguma maneira, eu sabia que a minha vida estava sendo alterada para sempre.

"Devo ir com você dizê-lo ao sacerdote?", ela perguntou. "Não" – suspirei profundamente – "irei só".

Voltando meu olhar para ela, contemplei as lágrimas em seus olhos. Em pé, a seu lado, estava a nossa filha de três anos de idade. Agachando-me, fitei atentamente o seu rosto e carinhosamente afaguei sua face, sem dizer sequer uma palavra. O que é que eu poderia dizer? Coloquei-me em pé e olhei de novo para a minha esposa. Ela tocou o meu ombro e a minha mão sã, e eu toquei as mãos dela. Seria o nosso toque final.

Cinco anos se passaram, e ninguém havia me tocado desde então, até hoje. O sacerdote não me tocou. Ele olhou para minha mão, agora envolta em um trapo. Olhou para o meu rosto, sob a sombra da tristeza. Eu nunca atribuí a ele culpa ou falta pelo que disse. Ele estava apenas fazendo conforme fora instruído. Cobriu sua boca e, estendendo sua mão com a palma para frente, disse-me. "Você está imundo". Com apenas um pronunciamento, perdi minha família, minha fazenda, meu futuro, meus amigos.

Minha esposa encontrou-se comigo nos portões da cidade com um saco de roupas, com pão e algumas moedas. Ela não falava. Agora os amigos tinham compreendido. Aquilo que eu tinha visto nos olhos dela era uma antecipação do que passei a ver em cada olhar a partir de então: uma mistura de compaixão e medo. À medida que eu dava um passo para frente, eles davam um passo na direção contrária. O horror que sentiam a respeito de minha doença era maior do que a sua preocupação pelos sentimentos do meu coração. Então, eles e todas as demais pessoas que vi a partir daquele momento davam um passo para trás.

Oh, que repulsa eu causava naqueles que me viam. Cinco anos de lepra deixaram minhas mãos torcidas. Já não tinha mais algumas pontas de meus dedos, bem como porções de uma das orelhas e de meu nariz. Alguns pais, quando me viam, agarravam seus filhos. Mães cobriam as faces deles. Crianças apontavam para mim com olhos arregalados.

Os farrapos sobre meu corpo não podiam esconder as minhas feridas. Nem mesmo o pano envolto em meu rosto podia esconder a ira que havia em meu olhar. Eu nem mesmo procurava ocultá-la. Quantas noites agitei meus punhos aleijados em direção ao silencioso céu? "O que é que eu fiz para merecer isto?". Mas nunca tive uma resposta.

Algumas pessoas pensavam que eu havia pecado. Outras pensavam que meus pais haviam pecado. Não sei. Tudo que sei é que à medida que o tempo passava aquilo tudo me cansava muito: dormindo na colônia para leprosos, sentindo o mau cheiro. Sentia-me cansado do detestável sino que era obrigado a usar em volta de meu pescoço para alertar as pessoas sobre a minha presença. Como se isso fosse necessário. Bastava apenas um olhar e os gritos começavam: "Imundo! Imundo! Imundo!"

Há várias semanas ousei caminhar pela estrada que leva à minha vila. Eu não tinha a intenção de entrar. O céu sabe que eu apenas queria olhar novamente os meus campos, contemplar o meu lar, e ver, quem sabe, a face de minha esposa. Eu não a vi. Porém, vi algumas crianças brincando em um gramado. Escondi-me atrás de uma árvore e fiquei observando como corriam e pulavam. Suas faces eram tão alegres e seus sorrisos tão contagiantes que por um momento, um breve momento, senti-me como se não fosse mais um leproso. Senti-me como um fazendeiro, como um pai, como um homem. Inspirado na alegria delas, saí detrás da árvore, coloquei-me em postura ereta, respirei profundamente... e elas me viram. Antes que eu pudesse me esconder novamente, elas me viram. E gritaram. Correndo, separaram-se. Contudo, uma delas demorou-se a seguir as outras. Fez uma pausa e olhou em minha direção. Não sei, e não posso afirmar, mas penso, realmente penso, que era minha filha. E também não sei, não posso dizer com certeza, mas acho que estava procurando por seu pai.

Aquele olhar foi o que me fez dar este passo que dei hoje. Sem dúvida foi um passo arrojado. Arriscado, certamente. Mas o que eu tinha a perder? Ele chama-se a si mesmo de Filho de Deus. Ele ouvirá a minha queixa e me matará, ou aceitará a minha súplica e me curará. Estes eram os meus pensamentos. Aproximei-me dele de um jeito desafiador. Não movido por fé, mas por uma ira desesperadora. Deus havia permitido que uma calamidade alcançasse o meu corpo, e ele era capaz tanto de curá-lo como de acabar com ele.

Então eu o vi, e quando o vi, fui transformado. Você deve estar lembrado, sou um fazendeiro e não um poeta, então não sou capaz de encontrar palavras para descrever o que vi. Tudo o que posso dizer é que as manhãs judaicas são tão refrescantes e o nascer do sol tão glorioso, que ao olhar para eles uma pessoa é capaz de se esquecer do calor do dia anterior e das feridas do passado. Quando olhei para a face dele, vi um amanhecer judaico.

Antes que ele falasse, percebi que se importava comigo. De alguma maneira percebi que odiava esta doença tanto quanto, porém não mais que eu. Minha raiva foi transformada em confiança, e a minha ira tornou-se esperança.

Por detrás de uma rocha, vi quando ele desceu uma montanha. Uma multidão de pessoas o seguia. Quando estava a apenas alguns passos de mim, sai detrás da rocha. "Mestre!"
Ele parou e olhou em minha direção, como também dezenas de outras pessoas. Senti como se uma torrente de medo corresse pela multidão. Braços se agitavam em frente a rostos assustados. Crianças escondiam-se rapidamente por detrás dos pais. "Imundo!", alguém gritou. Uma vez mais, eu não os culpo. Eu era como uma massa moribunda. Porém, eu mal podia ouvi-los ou vê-los. Já tinha presenciado o seu pânico milhares de vezes. Sua compaixão, contudo, nunca pude contemplar. Todos deram um passo para trás, exceto ELE. Ele deu um passo em minha direção. Em minha direção.

Cinco anos atrás, minha esposa deu um passo em minha direção. Ela foi a última pessoa a fazê-lo. Agora ele o fez. Eu não me movi. Apenas disse: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo". Se ele tivesse me curado com uma palavra, eu teria me emocionado. Se ele tivesse me curado através de uma oração, teria me alegrado. Mas ele não ficou satisfeito por apenas falar comigo. Ele se aproximou, e me tocou. Há cinco anos minha esposa me tocou. Ninguém mais me tocara desde então. Até hoje.

"Quero", suas palavras foram tão amorosas quanto o seu toque. "Sê limpo!", seu poder inundou o meu corpo como água através de um campo arado. Num instante, senti calor onde outrora havia entorpecimento. Senti força onde antes tinha atrofia. Minhas costas endireitaram-se e minha cabeça foi levantada. Se antes eu só conseguia enxergar as coisas na altura de seu cinto, agora meus olhos contemplam sua face. Sua face sorridente.

Ele colocou as mãos sobre a minha face e trouxe-me para tão perto de si que eu podia sentir o calor de sua respiração e ver seus olhos úmidos. "Não o digas a alguém, mas vai, mostrar-te ao sacerdote, e oferece a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho".

Então, é para lá que estou indo. Mostrar-me-ei ao meu sacerdote e o abraçarei. Mostrar-me-ei à minha esposa e a abraçarei. Tomarei minha filha em meus braços e a abraçarei. Nunca me esquecerei daquele que ousou tocar-me. Ele poderia ter me curado através de uma palavra. Mas ele quis fazer mais do que me curar. Ele quis me honrar, dar-me dignidade para que eu tivesse um nome. Imagine isso... indigno do toque humano, mas digno do toque de Deus.

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Para quem não conhece os costumes da lei na época, recomendo:
- Para classificar a lepra: Levítico 13 (principalmente 1-8;45-46)
- Para quem se curava: Levítico 14 (principalmente 1-9)

domingo, 27 de maio de 2007

"PEDRO, TU ME AMAS?" *

Hoje vou colocar um texto que considero maravilhoso, expressando de forma incrível a graça de Deus. Um texto que me ajudou a compreender melhor o amor de Jesus, me deixando mais apaixonado por Ele. :) Foi escrito por Caio Fábio, e foi retirado do site http://www.caiofabio.com/ , que aliás, recomendo!

Fiquem nEle!


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"PEDRO, TU ME AMAS?"



Pedro havia negado Jesus três vezes...

No entanto, para Jesus, a questão daquela manhã de sol nascente das alturas na quieta praia de Tiberíades era apenas uma: "Tu me amas?"

Até na hora de lidar com a negação e com a traição, Jesus é completamente diferente de tudo e todos, e completamente coerente com Seu próprio Ser-Ensino.

O Verbo se fez carne, por isso o Ser-Ensino de Jesus são um.

O que diriam as nossas lógicas de amor?

"Se ele amasse, jamais teria feito o que fez" - e, assim, se atribui impecabilidade ao amor humano.

"Ama, mas não tem raízes em si mesmo" - diria a sofisticação psicológica.

"É egoísta demais para amar" - diria uma voz moral piedosa e certa.

"É cedo demais para perdoar você. O que fazes aqui entre os outros?" - diria o Mestre das Disciplinas.

"Nunca mais será a mesma coisa. Como poderei confiar em você outras vez?" - diria a razão mais humana e ressentida.

"Pode ser que ainda dê, um dia... quem sabe? Mas você terá que fazer um longo caminho de volta!" - diria um piedoso e quase esperançoso pastor de almas.

"Já que você insiste, verei do que você é feito. Colocarei um diretor espiritual para supervisionar você" - diria um ser crente na fabricação de caráter e de fidelidade.

"Sinto muito, Pedro, mas já não é possível. Você jogou fora a sua chance, embora eu o tenha advertido várias vezes" - diria a razão fria e justa.

"Você está perdoado, sem ressentimentos, vá em paz; pois não há mais clima para a gente prosseguir" - diria o melhor do homens.

"Logo você, em quem tanto confiei! Como pode fazer isso? Explique-me suas razões" - diria o bondoso justo.

"Meu Deus! E pensar que amei tanto você. Eu sou um santo idiota mesmo!" - diria um Deus com alma de esposa ou de marido.

No entanto, Jesus apenas pergunta: "Tu me amas?"

E com isso Ele admite que o amor peca, trai, nega, se engana, enfraquece, pode ser egoísta, é capaz do impensável, é passível de repetir o mesmo erro, não apenas três vezes, mas até setenta vezes sete.

Jesus não estava buscando perfeição, mas apenas um amor que pudesse ser aperfeiçoado no próprio amor... no Caminho.

"Tu me amas?" - pergunta Ele três vezes.

Ao que Pedro responde, dizendo, humilhadamente, um "sim" cheio de vergonha, e até se sentindo um sem caráter por ainda ter a coragem de confessar amor tendo negado.

Pedro diz "sim, sim, sim"... mas não o faz sem a angústia de quem não quer ser visto como cínico!

Pedro ama. Ama com amor que é dele, com o amor que lutava para ser amor no chão raso de sua alma. Mas era amor, e isso ele não podia negar. Ele admitia que negara Jesus, só não podia admitir que não amava Jesus.

Jesus sabe que às vezes se ama apesar de...

Jesus sabe que o único amor que ama sem nenhum apesar de... é o Seu próprio amor, de mais ninguém.

Jesus ama os nossos amores, apesar de... Pois Ele sabe que quem não ama apesar de... esse deve se oferecer para ser o Salvador dos homens.

"Tu me amas?"

Pedro não tem mais o que dizer. Provar amor? Meu Deus! Levaria o resto de sua vida, e teria que demonstrar isso não apenas com ações, nem com palavras apenas, e, se fosse o caso, deveria provar tal amor com dores de alma até a morte.

Pedro não tem meios de provar nada. Não tem o poder de reverter quadros e nem de apagar memórias. E também não suportaria ficar gemendo o resto da vida num canto de sua casa a fim de provar a Jesus que o amava apesar de...

Provar que se ama pode ser o inferno!

Pedro está perdido. Quem o ajudará? Quem testemunhará em seu favor? Quem terá garantias a oferecer em seu nome? Quem seria o fiador de seu fracassado amor?

A esperança de Pedro quanto a provar a Jesus que ele O amava era o próprio Jesus.

"Senhor, tu sabes todas as coisas... e se as sabes, certamente tu sabes que eu te amo!"

Assim, Pedro não tem argumentos, nem explicações, nem mesmo se oferece para padecer como prova eterna de seu amor ...no inferno do amor...

Pedro não quer o inferno do amor... ele quer ser salvo do inferno de sua alma pelo amor... e só Jesus poderia fazer isso, pois somente Jesus sabia o que existia no coração dele.

Assim, ele está tão certo de sua total incapacidade de vencer os fatos esmagadores com argumentos ou mesmo com penitências, que ele apenas recorre a uma certeza: Jesus conhece meu coração!

"Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que eu te amo!"

Chega uma hora quando todos os argumentos cessam, quando não há explicações a serem dadas, quando toda fala é cinismo, quando todo gesto parece compensatório e auto-justificatório, e quando toda e qualquer promessa de fidelidade e lealdade apenas cerram sobre a alma a porta da masmorra das infindáveis penitências.

Pedro amava, mas não queria que seu amor fosse sepultado vivo na morte!

A resposta de Jesus é de confiança!

Sim, Ele sabe que Pedro o ama apesar de Pedro, de seu egoísmo, de sua vacilação, de sua pusilanimidade, de seus ímpetos inconseqüentes, de suas coragens pouco resistentes, de seus vícios de fuga...

"Pastoreia as minhas ovelhas... os meus cordeirinhos... esse povo que me ama como tu... que ama e que trai... Tu, que agora sabes quem és, pastoreia nesse amor esses que são como tu mesmo".

E conclui: "Agora, vem, e segue-me..."

Jesus não bota o amor de castigo, parado no ponto e na esquina da negação, frizado na vitrine do espetáculo da fraqueza, preso para sempre aos seus próprios pecados.

Jesus sabe que a cura para a traição e a fraqueza só acontece no caminho, enquanto se O segue, e no chão da vida, onde o amor terá a chance de ser amor, e não negação.

Trai-se na vida. Ama-se na Vida. Nega-se na vida. Se é curado na Vida. Somente na vida o que é, é; e pode se manifestar!

Sem que seja assim o que resta é deixar Pedro em Tiberíades para sempre, envolto nas malhas de suas angústias, pescando os peixes que fogem dele, existindo numa seqüência de dias que já lhe são o próprio inferno.

Nossa salvação é uma só: O Senhor sabe todas as coisas, e quem sabe que ama apesar de... não tem outra chance se não confiar no que Jesus sabe em nós e acerca de nós, pois se o que há em nós é verdade, Ele em nós aproveitará toda verdade de amor para o nosso próprio bem.

Confie. Ele conhece você!


Caio

sábado, 26 de maio de 2007

Graça X Lei


Para conscientizar o homem de sua queda e que algo passou haver de errado com ele (pois o projeto original tinha sido corrompido, no caso, uma alma equilibrada que conhecia a paz) era necessário ser feito algo. Sem lei, não há transgressão (Rm 4:15), e pela lei veio o pleno conhecimento do pecado (Rm 3:20). Sem lei, a humanidade chegou a tal ponto de depravação que Deus teve que recomeçar tudo por uma família (Noé). A lei serve como referência ao homem em relação a sua corrupção, entretanto, ela não é capaz de transformá-lo pois age pelo medo, ou da punição, ou rejeição social, tratanto apenas o homem exterior, mas não chegando ao interior (Rm 7:22-23).

Hoje temos diversos tipos de leis, as quais muitas vezes as utilizamos como lentes para observar o mundo e as situações, todas dentro do conhecimento oferecido pela Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Leis da Justiça humana, leis éticas e morais, leis religiosas, entre outras... todas regendo o homem pela escravidão do medo. As Leis da Justiça humana controla o homem pelo medo da punição, da prisão, da pena de morte em alguns lugares; as leis morais e éticas nos controlam através da rejeição social, e por sermos seres sociáveis, buscamos ser aceitos pela sociedade; e as leis religiosas nos controlam pelo medo da ira divina, onde podemos desagradar a Deus e sofrer as conseqüências.

Quero comentar as leis morais e éticas, já que as outras não precisam de muito comentário. Por exemplo, por que uma mulher muitas vezes não se envolve com todos os homens que deseja? Será que é por perceber que não os ama, e por isso não vai à frente? Sem generalizar mas crendo ser o caso de muitas, concordo que há vários fatores, mas imagino que o principal é o medo de ficar mal falada pois isso não condiz com as regras morais impostas às mulheres. As regras morais e éticas representam o que há de maior orgulho e soberba humana. Esta mesma mulher que não se envolveu para não ficar mal falada, é muitas vezes a mesma que condena a que se envolve, fazendo aquela se sentir superior a esta, mesmo que interiormente a pulsão por tal coisa esteja fervilhando. Logo, tais regras mexem na casca, se tornam máscaras e índices para comparação de boa conduta entre as pessoas, trazendo julgamento e cegueira para os que conseguem cumprir tais regras porque recebem glória de homens, mas não dAquele que sonda os corações.

Nos últimos meses comecei a ser incomodado ao perceber que muitas vezes me comportava mais parecido com as pessoas a quem Jesus confrontava asperamente, do que com os que ele andava e chamava como discípulo. Comecei a perceber meu legalismo, e como me parecia com os fariseus tão criticados por Cristo. Pessoas que não entravam nos céus, e nem deixavam os outros entrar por estar tão ligados a regras, ainda escravos da lei e sem conhecimento da liberdade na graça e amor. Tudo por falta do meu entendimento da graça, favor imerecido, que na minha mente já estava memorizado como um papagaio memoriza várias palavras, mas ainda não a tendo como vida e verdade no coração.

Mas qual a diferença entre lei e graça? A lei foi dada a Moisés em tábuas de pedras, algo fixo, rígido. E em toda e qualquer lei ou regra, seja judicial, moral ou qualquer outra, transgrediu é condenado, não há perdão, há apenas juízo. Quem adultera é adúltero, quem mata é assassino, quem erra é culpado, não há lugar para arrependimento. Porém, Jesus veio estabelecer a graça, a Nova Aliança, e a palavra nos diz que Deus a escreveria no coração dos homens, no mais interior de seu ser, algo que pulsa, bate, tem vida e movimento, não mais rígido como uma pedra (2 Co 3:2-3).

Quero explicar melhor a rigidez da Lei e a pulsação da Graça. Todo mundo que comete pecado é pecador? Se sim, logo não há um santo sobre a terra (Rm 15:25). Quem seriam os tais "santos" pela Lei? Todo mundo que comete adultério é um adúltero? A palavra nos diz em 1Co 6:10 que os adúlteros não herdarão o reino dos céus, mas e aí? Qual a diferença entre este "adúltero" e alguém que cometeu adultério? Como foi falado no início, pecado é aquilo que fazemos contra nossa própria consciência, desde que ela ainda consiga enxergar os fatos com um mínimo de amor. O adúltero é aquele que já não consegue enxergar seus atos pelo amor, a ponto de sua consciência não mais acusá-lo do erro, ou então que finge tal insensibilidade, a ponto de chegar para os amigos no bar e se vangloriar que tem várias mulheres enquanto a esposa está em casa. O que cometeu adultério é o que devido às circunstâncias ou à fraqueza, caiu no erro, mas pela consciência se arrependeu e desejaria não ter cometido tal ato. Neste caso, Jesus veio em carne e conheceu suas fraquezas e pôde se fazer réu por ele, imputando sua justiça e tornando-o santo, não por seus próprios méritos, mas pela fé em Cristo que pagou o preço por ele. Para este, há o perdão do Pai; para aquele, ainda faltou o arrependimento e uma consciência renovada pelo amor de Deus. Alguns podem perguntar: "Mas como vamos saber se a pessoa realmente se arrependeu"? E eu pergunto: "O que temos a ver com isso"? A fé e vida com Deus é algo pessoal, intransferível, logo, que a própria pessoa se julgue, porque ela até pode nos enganar, mas não pode enganar Aquele que sonda os corações. Paulo nos disse que o fim do mandamento é o amor de um coração puro, uma boa consciência e uma fé não fingida (1Tm 1:5). Não podemos ter o papel de juízes neste caso, sendo nosso único papel amar incondicionalmente, afinal, quem ama está acima das leis.

A fé e entrega da vida a Cristo foi a reconsciliação com o homem planejada por Deus, e que traria novamente a paz interior, não como o mundo a dá, mas como a dá Cristo. O paz no mundo é exterior, baseada nas circunstâncias. Na verdade, é uma paz firmada na maior insegurança da pessoa. Se o fato que te dá paz é seu emprego, seu maior medo também será perdê-lo. Se tua paz for firmada no casamento, teu maior medo será o divórcio. Onde está a base da nossa segurança, ali também está nossa maior insegurança. A paz em Cristo é interior, pela fé, não baseada em circunstâncias nem no que existe, mas nAquele que É! O tamanho da nossa confiança em Deus é o tamanho da nossa fé, e conseqüentemente, é também o tamanho da paz em nossos corações.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Consciência e pecado


Então... o que é pecado? A gente escuta tanto falar em "pecado", mas na hora de definir o que é, dificilmente conseguimos. Eu não lembro se conseguia tal coisa, mas hoje, pelo menos, tenho minha definição. Pecado para mim é tudo aquilo que fazemos contra a nossa consciência, desde que nossa consciência ainda seja sã. E ao que chamo uma consciência sã? Para mim, uma consciência sã é aquela que ainda consegue de alguma forma olhar o mundo pela ótica do amor. No caso, todos nós somos em certo grau, doentes de alma.E o que é a alma? A alma é o local de nossas vontades, emoções, desejos, onde há o encontro do que é eterno (o espírito) com o que temos de carnal terreno (os instintos de preservação do indivíduo e da espécie), depois da queda.

Adão foi feito imagem e semelhança de Deus, havendo uma harmonia em sua alma, porque como o espírito e a carne estavam em equilíbrio, não existiam lutas interiores e a paz estava em seu coração. Não havia porque ir contra a prórpia consciência, porque Adão era o que era, sem máscaras, sem medos. Mas o que aconteceu na queda então? Toda essa paz e vida não foram suficientes, e o desejo de ser igual a Deus, apesar do risco da morte, falou mais alto. Na verdade, um dos principais riscos que corremos é não reconhecermos nossas limitações, querendo ser aquilo que não fomos criados para ser. Não bastou a Vida, Paz e Harmonia para Adão, e o desejo de ser igual a Deus prevaleceu. Indo na Física, um sistema em equílibrio para ter seu estado mudado é necessário um agente externo, no caso, uma força ou energia. Se o homem estava equilibrado, seria necessário também um fator externo para ocorrer uma desarmonia no homem, que veio exatamente com a atuação da serpente.

Com a Árvore do Conhecimento, o homem passou a ter noção do bem e do mal, levando-o a achar que pode por si mesmo escolher o que é bom ou ruim para si e para o próximo, e consequentemente, gerando uma "justiça-própria". O problema, é que bem e mal são conceitos relativos, e o homem, na sua limitação, sem o conhecimento pleno do ambiente e dos corações que o cercam, não consegue saber o que é bom ou mau, o que o faz cometer erros, que geram dúvidas, que formam angústias, e como conseqüencia, conflito interior. Só temos capacidade de julgar nossas motivações, se são boas ou más, mas nunca nossos atos.

E onde encontro um exemplo disso? Logo no início da bíblia, Adão estava nu e julgou aquilo ser mau, tendo medo e se escondendo da presença de Deus. Mas se antes não era errado, por que passou a ser? Sua consciência que julgou assim ser, e ao condená-lo, nisto subsistiu seu pecado. A palavra nos diz: "Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprouva. Mas aquele que tem dúvidas é condenado...porque o que faz não provém de fé; e tudo que não provém de fé é pecado (Rm 14:22a-23)." Para que ninguém diga que estou pegando versículos fora de contexto, pois este se refere a alimentos, irei explicar melhor: Paulo estava tratando exatamente dos julgamentos que fazemos ao próximo por não fazerem aquilo que consideramos certo, neste caso, comer certos tipos de alimentos ou bebidas. Mas tudo não passa de questões particulares, e cada um siga sem condenar o outro naquilo que condena. "A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus". Isso quer dizer que não vou mais me importar com os outros e fazer o que quiser? Claro que não! Julgue tudo pelo amor: "É bom não...fazer qualquer outra cousa com que teu irmão venha a tropeçar[ou se ofender, ou se enfraquecer]". A nudez passou a condenar Adão, na condenação e conflito da alma surgiu o pecado, sendo necessário o próprio Deus ter feito o primeiro sacrifício de animal para o vestir e trazer novamente "paz" a Adão. Mas a partir daí, os conflitos na alma só foram aumentando, a harmonia na alma entre instinto e espírito não existia mais, e a morte passou a operar no homem.

Muitos dos "pecados" que nos atormentam são simples questões pessoais e culturais. Porém, usar isto como desculpa para cair na libertinagem é um caminho ainda pior para a alma. Cair na libertinagem é ter como foco principal a realização de seus próprios desejos, se tornando escravo deles; viver a liberdade é antes de tudo, ser livre para efetuar o bem ao próximo. Se guie pelo amor, mas pelo amor de Deus (agape)... só Ele pode dar o equilíbrio necessário aos nossos amores humanos(eros e phileo), para que vivamos a liberdade e paz verdadeira em Cristo, ou seja, a que vai nos libertando da lei e dos vícios.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Salmo 24


"Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória."

Essa passagem sempre me intrigou. Tive muita dificuldade em ter algum entendimento sobre ela, e pedi: Pai, me mostra alguma coisa sobre o significado destas "portas"... destes "portais eternos".

Até que certo dia fui cedo para a igreja orar, e estando lá sozinho fiquei conversando com Deus... comecei a olhar para as portas da igreja, e nos meus "devaneios" me fiz a seguinte pergunta: Para que serve uma porta? Pensei: Bom, para entrar... ou sair. Dãhn!!! hehe

Tudo a Ele pertence e nEle subsiste, tanto a terra como o que nela se contém, tanto o mundo quanto os que nele habitam.

Mesmo assim, quem Deus escolhe para manifestar sua glória e alcançar os seus? Aqueles que já foram conquistados pelo Seu amor... no caso, a sua Noiva, a Igreja. Não necessariamente apenas através dela, porque Ele é livre para agir da forma como bem entende. Mas preferencialmente, Ele usa os que o amam para tal.

Nós somos as portas... os portais eternos. Nós somos o meio e instrumento pelo qual Jesus deseja revelar sua Glória e amor aos corações abatidos e contritos, sem esperança neste mundo.

Portais eternos... que já estão na eternidade com o Pai, pela fé em Cristo Jesus. :) Portas... que o buscam com sinceridade de coração e possuem as mãos limpas pelo sangue do Cordeiro, e não por obras próprias com as quais se gloriam. Tal é a geração dos que O buscam (se deixando encontrar), dos que buscam Sua face.

Este Salmo acaba sendo uma convocação do Espírito para todos aqueles que já foram conquistados pelo Seu amor... sim, pelo amor, e somente pelo amor. Porque qualquer outra motivação fora do amor, nos transforma em portas fechadas.

Somos as portas de entrada do amor de Deus neste mundo... da entrada do Rei da Glória. Quando escutarmos esse chamado, que simplesmente nos levantemos, porque quem entra é Ele, e não nós... a glória é dEle, e não nossa. :) Quem é esse Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, Ele é o Rei da Glória.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Se conhecendo por outros


Já repararam que cada pessoa que esbarra conosco nesta vida revela algo diferente em nós? Óbvio? Pois é... como as vezes a gente demora tanto pra descobrir coisas óbvias?! :) Eu no caso, demorei 26 para descobrir isso. hehe

Mas então... para quem ainda não está tão óbvio assim, é o seguinte: Assim como fulano revela áreas de você, sicrano revela outras. Cada pessoa serve como luz para nos revelar partes específicas do nosso coração, e assim, servindo para nos conhecermos mais. Claro, isso se estivermos dispostos a nos conhecer e possuindo um mínimo de sensibilidade para discernir tais revelações. :)

No caso, uma pessoa pode nos mostrar que temos um preconceito, enquanto uma outra nos revela outro tipo de preconceito; uma pode nos mostrar o quanto somos misericordiosos, enquanto outra o quanto somos opressores. Podemos buscar mudança e quebra de paradigmas nos casos que julgamos mau, ou então buscar crescer naquilo que julgamos bom. Mas muitas vezes a dureza do nosso coração prefere simplesmente continuar do mesmo modo seguindo a lei de Gabriela onde "eu nasci assim e continuarei assim".

Geralmente os amigos revelam o que há de melhor, e os inimigos o que há de pior. Assim como gentilezas mostram o que há de melhor, e traições o que de pior... O que importa afinal? Na verdade, é em como assimilamos e transformamos tais situações e não o fato em si.

Cada pessoa em comunhão conosco é um conjunto único, sem outro igual na terra. Assim como o B sem o E nunca seria BE, e sem o A, BA... sendo apenas B ele nunca conseguiria imaginar que várias outras combinações ele poderia manifestar. E quanto mais outras letras, mais ele vai entendendo seu valor na linguagem.

E assim vejo hoje ser uma das importâncias de sermos um Corpo em comunhão... para fazermos combinações para irmos nos conhecendo, e sabendo realmente quem somos no Pai. Sozinho ninguém se conhece... e a luz para isso só encontramos quando estamos em contato, não só com a Igreja, mas também sendo dissolvidos no mundo como sal. Que onde encontrarmos um M, O e R, busquemos ser o mais parecido possivel com o A... e juntos, sejamos conhecidos por tal combinação. :) A busca desse conhecimento e caminhar nesta estrada é a verdadeira maturidade.

O que muitas vezes acontece hoje no Corpo de Cristo é que onde se encontre um A, existam apenas A's; um B, apenas outros B's. Mas AAAA e BBBB nao têm significado real algum para nosso entendimento, e muito menos significado teremos para a sociedade desta forma.

Pretendo procurar ser mais sensível ao que cada pessoa revela em mim, e nisto ir me conhecendo... sabendo quem sou no Corpo e no mundo... crescer nas qualidades, e endireitar os defeitos. Mas para isso preciso de cada um de vocês...

Fiquem no nosso Pai...

terça-feira, 22 de maio de 2007

Ainda falta algo?


Uns tempos atrás eu vivia indo em tudo que era congresso evangélico. Onde acontecesse um encontro de avivamento que eu tivesse a oportunidade de ir, lá eu estava. Como o foco hoje é a adoração, sempre todos eles eram regados a muito louvor. Fogo e Glória, CasadeDavi, Diante do Trono...foram alguns deles. Realmente é benção ver o povo expressando seu amor ao Pai e estar presente junto, e logo, era sempre muito bom.

Porém, ultimamente eu andei pensando na minha postura em relação a isto tudo. Como assim? Bem, fiquei pensando na certa necessidade que tinha de estar indo em tais congressos, comoseali fosse a principal fonte de Vida para mim. Era edificado? Poderia não assimilar tudo, porém aprendia muitas coisas sim. Portanto, qual o problema?

Na verdade, analisando meu comportamento hoje, percebo que tal necessidade de ir em tudo que era congresso estava na busca de respostas que minha alma necessitava. Que respostas? Não sabia... só sabia que buscava algo. :) E por não saber o que era, e por não ter recebido o que eu nem sabia precisar, a carência por esse "algo" continuava.

Terminava um, me sentia cheio... passava um tempo, já achava que precisava ir em algum outro pra me sentir cheio novamente.

As vezes vejo as pessoas falando de alguns congressos na expectativa que tal seja o divisor de águas em suas vidas e se decepcionam. Por que colocar toda a esperança em um congresso se o Pai pode fazer hoje? Ele pode fazer no congresso? Pode... mas pode fazer HOJE também. :)

Muitas vezes o Pai escolhe nos transformar sutilmente, de forma que nem percebemos; outras, através dealguma revelação gerada no coração que o transforma definitivamente numa área em que ainda éramos muito imaturos; e ainda em outras, com revelações que nos transformam de tal forma que passamos a achar que viramos outra pessoa. :) E todas elas podem ocorrer, ou estão ocorrendo, no dia chamado HOJE.

O que quero dizer com isso? Bem, só quero provocar uma reflexão em quem se identificar com o que falo. Deuns tempos para cá descobri que não há lugar melhor para aprender do Pai do que no nosso próprio relacionamento com Ele ou na própria vida... no nosso cotidiano... com as pessoas que estão ao nosso redor, sejam cristãs ou não.

Se seu coração ainda clama por respostas, e ainda é carente daquilo que você nem sabe do que se trata... pare!! Pergunte ao Pai o que está faltando. Aí você pode questionar: E como vou saber se está faltando algo ou não? Só respondo que se estiver na dúvida é porque está faltando, e que quando encontrar, você saberá. :)

Maldade? Não... apenas uma tentativa de fazer com que sejamos mais dependentes do Pai, pois só Ele sabe o que realmente precisamos. Minha trajetória não é igual a sua, mas nossos caminhos em Jesus convergirão no mesmo destino... na eternidade nEle. :)

Fiquem nEle...